Essa lógica também se aplica com força crescente às cidades brasileiras — e Salvador é um caso exemplar. Nos últimos anos, a capital baiana passou por importantes transformações estruturais que têm reposicionado bairros e ampliado seu potencial de valorização. Duas grandes intervenções viárias se destacam nesse cenário: as Linhas Azul e Vermelha.
Infraestrutura que conecta e transforma
A Linha Azul, também conhecida como Avenida Gal Costa, é um extenso corredor viário de aproximadamente 12 km que conecta a região do Subúrbio Ferroviário, no Lobato, à orla atlântica de Patamares. Com pistas duplas, ciclovias, túneis e viadutos, a Linha Azul tem como objetivo articular bairros historicamente isolados, como São Marcos, Narandiba, Pau da Lima e Boca da Mata, criando novas possibilidades de deslocamento e integração com a cidade formal.
Já a Linha Vermelha, em execução, é um eixo que ligará a orla de Itapuã à BR-324, passando por bairros como Itapuã, Piatã, Stiep, Costa Azul e Armação, conectando-se com o sistema metroviário e com os principais polos empresariais de Salvador. Seu traçado visa aliviar os fluxos congestionados da Avenida Paralela, além de criar um novo vetor de desenvolvimento para áreas subutilizadas ou periféricas.
A valorização nos números
O reflexo desses investimentos pode ser observado na valorização real dos imóveis em diversas regiões da cidade. Dados de 2024 mostram que:
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Pernambués, bairro beneficiado pelo acesso às novas avenidas e pela sua posição estratégica próxima à Avenida Paralela, apresentou um valor médio do metro quadrado de R$ 7.514, com uma valorização de 14,3% em apenas 12 meses.
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Imbuí, que ganhou destaque pela conexão com as Linhas Azul e Vermelha, teve o metro quadrado valorizado em 15,8%, alcançando R$ 6.966 no mesmo período.
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São Marcos, tradicionalmente fora do radar imobiliário de alto padrão, vem registrando contínua valorização desde a implantação da Linha Azul e das obras de requalificação urbana na região. Em 2017, foi o bairro com a maior valorização percentual da cidade, e segue atraindo novos empreendimentos.
Enquanto isso, bairros já consolidados como Pituba e Graça apresentaram oscilações mais discretas, sendo até superados em valor de metro quadrado por áreas anteriormente tidas como populares — um fenômeno que reforça o impacto das intervenções viárias no redesenho da geografia do valor urbano.
Mobilidade como estratégia de desenvolvimento
O caso de Salvador reforça a tese de que a mobilidade urbana, quando pensada em articulação com o planejamento do território, pode ser uma poderosa alavanca de desenvolvimento urbano e inclusão econômica. Os bairros que ontem eram periféricos passam a ocupar um novo lugar na dinâmica da cidade, abrindo espaço para a diversificação de usos, a chegada de serviços e a reconfiguração das expectativas de futuro.
Mais do que mover pessoas, as novas infraestruturas estão movimentando o próprio tecido urbano – e com ele, as oportunidades e o valor de cada pedaço da cidade.
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